Antigas Lagoas do Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro encontrado pelos Portugueses no início do século 16, era muito diferente do que vemos hoje.
Um território difícil e alagado, cercados por montanhas com densas matas, inúmeras lagoas, mangues e praias. Inúmeras lagoas foram aterradas, com o desenvolvimento da cidade e processo civilizatório.
Veja aqui as lagoas do passado e as que continuam a existir nos dias de hoje.
As Lagoas e o Desenvolvimento da Cidade
A aparência das terras do local onde seria a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, ainda no século 16, era um território de complexa e complicada topografia e geografia.
As partes baixas eram alagadiças e com muitos mangues, tendo os morros e as montanhas apontando quase que como ilhas.
Uma vegetação abundante nas baixadas escondia esses brejos e pelas encostas se estendiam densas florestas, de mata cerrada e hostil aos conquistadores que aqui chegaram e precisavam desbravar.
Primeiramente foi ocupado o Morro no Cara de Cão (Cidade Velha) e depois no Morro do Descanso ou Morro do Castelo onde realmente floresceu a cidade, após a expulsão dos franceses e nativos aliados.
Para o desenvolvimento da cidade, foi preciso também explorar ou destruir as matas densas das encostas (Mata Atlântica das montanhas) e matas típicas das partes baixas, matas de restinga próximas à praias e lagoas arenosas e os manguezais e pantanos abundantes que dificultavam a vida dos primeiros colonizadores.
A Mata Atlântica original era rica em boas madeiras ou madeira de lei, como sândalo, pau de aquila, cedro, palmeiras e árvores frutíferas e para os lados de Cabo Frio o pau-brasil.
Acima reconstituição ilustrativa da Lagoa de Santo Antonio e Convento de Santo Antônio em 1650, onde hoje é Largo da Carioca feita pelo artista Guta. Até o final do século 18, esta lagoa ainda não se encontrava completamente aterrada.
Lagoa do Boqueirão em 1790, próxima ao Aqueduto da Lapa. Foi aterrada em 1799 e no seu local foi feito o Parque do Passeio Público.
Somente as praias e áreas baixas próximas à elas ofereciam facilidades imediatas, mas eram expostas aos ataques de inimigos e às ressacas. Na região da Guanabara, também não havia rios grandes rios caulosos e nem grandes cachoeiras, pelo menos próximas às baixadas.
Os rio que desciam as montanhas e serras eram de correntes tranquilas, e geralmente se dividiam antes de atingir as praias ou lagoas de águas tranquilas, sendo que muitas delas pantanosas.
De relatos de colonizadores e viajantes que aqui estiveram, as primitivas lagoas que se estendiam pelas terras baixas do Rio de Janeiro foram sendo extintas como forma de ganhar espaço e como medida saneadora, e para tal eram feitos aterros.
Aterrar lagoas para os primeiros colonizadores era necessário, para que a Cidade do Rio de Janeiro, que havia sido iniciada de fato no Morro do Castelo, pudesse crescer e se expandir para a varzea. A cidade assim se expandiu, rumo ao Sertão (direção do que é hoje o Campo de Santana) e rumo à antiga Cidade Velha (Morro Cara de Cão ou Zona Sul). O aterro das lagoas era um símbolo de progresso na luta pela civilização.
Para ver como era densa a vegetação das matas das encostas, e sentir toda a sua grandeza, uma boa ideia é fazer uma passeio na Floresta da Tijuca.
Para ter uma idéia de como era a vegetação de restinga e manguezais vale à pena uma visita Parque Ecológico do Recreio do Bandeirantes ou ao Bosque da Barra onde matas e vegetação de baixadas são preservadas com seu ambiente natural
Lagoas Aterradas
A primeira Lagoa a ser aterrada, foi a Lagoa de Santo Antônio, em local onde foi instalado um cortume. Esta lagoa situava-se no local onde hoje é o Largo da Carioca. Esta lagoa em maré alta, acredita-se que se prolongava até o mar através do caminho onde hoje é a Av. 13 de Maio ou antiga Rua da Guarda Velha. Quando foram feitas escavações para a construção das fundações do Teatro Municipal, no local foi encontrada a quilha de uma embarcação afundada no local.
Lagoas do Rio de Janeiro no Século 21
Das antigas lagoas que marcavam a paisagem das terras do Rio de Janeiro nos primórdios da colonização, algumas sobreviveram à expansão da cidade.
A Lagoa Rodrigo de Freitas, que já se chamou Sebastião Varela e Lagoa de Sacopenapã, perdeu muito de sua área em função de aterros, talvez uns 40 por cento de sua área original.
Acima, a Lagoa Rodrigo Freitas em aquarela do século 19, hoje tombada e preservada, é um atrativo da Cidade do Rio de Janeiro.
Outras Lagoas que se destacam na paisagem do Rio e que tem sido preservadas são as Lagoas da Barra da Tijuca. São a Lagoa da Tijuca, Lagoa de Jacarepaguá e Lagoa de Marapendi, interligadas por estreita faixas de água. A parte mais estreita da Lagoa de Jacarepaguá é chamada de Lagoa do Camorim.
A Lagoa de São Cristóvão que aparece em poucas ilustrações, foi aterrada em 1611 pelo sapateiro Díogo Dias e igualmente transformada em um cortume de peles.
A Lagoa do Desterro foi aterrada em 1643 e situava-se entre os Morros de Santo Antônio e Morro do Desterro (antigo nome do Morro de Santa Teresa). Esta Lagoa, entre os dois morros, ficava no local da Rua dos Arcos, e seu aterro se deu em função da ocupação do local por construções.
A Lagoa do Boqueirão ficava à fente dos Aqueduto da Lapa. Esta lagoa foi aterrada na última década do século 18, no tempo do Vice-Rei Luiz de Vasconcelos e Souza ou Marquês do Lavradio. A lagoa foi aterrada com terras do desmonte do Morro das Mangueiras vizinho ao local. Sobre o aterro foi construído o Passeio Público.
A Lagoa da Sentinela ou Lagoa de Capueiruçu, ficava no antigo caminho para Mataporcos (antigo nome do bairro Estácio) e Engenho Velho. O local de sua existência seria onde as Ruas Matacavalos (atual Rua Riachuelo) e Rua do Conde (atual Frei Caneca) se encontram, muito próximo ao bairro do Catumbi. Como referência, pode-se dizer também que situava-se ao lado do Morro do Senado que foi desmantelado no início do século 20.
A Lagoa da Polé ou da Pavuna, mostrada também na imagem abaixo, existia nas proximidades e áreas do Campo de Santana. Não confundir "Pavuna" com um bairro da Zona Norte do Rio, muito afastado do Centro da Cidade atual.
A Lagoa da Carioca, que não tem nada à ver com o Largo da Carioca, existia no local onde hoje é atual Largo do Machado.
A Lagoa de Botafogo, que situava-se entre as Ruas Marquês de Olinda e Dona Carlota também foi aterrada.
Manguezais e Regiões Pantanosas
Muitas regiões alagadiças foram aterradas, como o local do bairro Cidade Nova, onde havia o Manguezal de São Diogo que começou a ser aterrado no tempo de D.João VI.
A região de Manguinhos e Pavuna (na Zona Norte) também eram bastante alagadas e foram aterradas. Em Guaratiba ainda existem regiões alagadiças, que são áreas de proteção ambiental.
Mapa das antigas lagoas do Rio
O mapa acima é uma reconstituição do território original do Rio de Janeiro, na área mais central, entre Botafogo e São Cristóvão.
Através deste mapa em perspectiva, podemos ver as 4 lagoas que foram aterradas. Existem mais algumas citadas acima que não aparecem na reconstituição. Através desta imagem vemos também como era o litoral do Rio antes dos aterros feitos principalmente no século 20, e aparecem também morros que foram arrazado ou desmantelados, como o Morro do Castelo, Morro de Santo Antônio. O Morro do Senado de pequenas proporções também foi arrazado no início do século.
Referencias e Fontes:
- Consulta a diversos livros sobre a história e iconografia do Rio de Janeiro para dar suporte à criação desta página.