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Travessa do Ouvidor

Travessa do Ouvidor | Em primeiro plano parte da estátua de Pixinguinha

A Travessa do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, e uma rua de pedestres que liga a Rua do Ouvidor à Rua Sete de Setembro. Embora seja uma pequena travessa, possui uma história interessante e algumas atrações no local que nos levam a visita-la.

Pontos de interesse no local

Além de lanchonetes, e alguns bares, na Travessa do Ouvidor existe uma estátua do Pixinguinha, famoso músico dos tempos do chorinho e do chamado samba antigo, o primeiro ou talvez um dos primeiros artistas a gravarem disco no Brasil.

Pixinguinha era frequentador do local, provavelmente de algum bar que sucumbiu o progresso.

Mas no local existe a Wiskeria Gouveia, que procura guardar um clima da velha boemia carioca.

Por fora o ambiente parece chamativo e interessante, e para quem passa pelo local com tempo, certamente vale a pena conhecer o local.

Outro local de destaque da Travessa do Ouvidor, é a chamada Livraria da Travessa, que leva este nome por causa do local.

Esta excelente livraria, foi alí instalada na década de 1980 como filial de uma livraria da zona sul. Tornou-se uma das melhores livrarias do centro do Rio, com um rico acervo de livros nacionais e importados.

O sucesso foi grande, e a partir da metade dos anos de 1990, aquela filial e as novas filiais da livraria passaram a ter também o nome de Livraria da Travessa. Entre as inúmeras Livrarias Travessa, existem mais duas que se destacam por estarem localizadas em locais ou edifícios de interesse cultural e histórico. Estas são uma livraria na Rua do Ouvidor e outra em um antigo edifício na Av. Rio Branco, na verdade um belo prédio em estilo eclético, um relíquia remanescente do tempo da abertura da Avenida Central (atual Rio Branco), no início do século 20.

Estátua de Pixinguinha na Travessa do Ouvidor

Estátuda do Pixinguinha na Travessa do OuvidorPixinguinha é tido como o um dos mais importantes nomes da música brasileira, tendo sido compositor, arranjador e instrumentista. Seu nome real era Alfredo da Rocha Vianna Filho.

Segundo o texto da placa de bronze no pedestal da estátua, Pixinguinha foi assíduo frequentador da travessa do ouvidor. E ainda segundo a placa, a interessante escultura em bronze de Pixinguinha tocando saxofone é de autoria de Otto Dumovich.

História e Curiosidades

Com toda certeza a pequena viela chamada Travessa do Ouvidor leva este nome por ser uma pequena passagem que liga a Rua do Ouvidor à antiga Rua do Cano, que atualmente é chamada de Rua Sete de Setembro.

Esta passagem foi aberta no final do século 17 ou início do século 18, tendo sido chamada por algum tempo de Rua Nova do Ouvidor, Rua do Padre Duarte, e até Rua das Flores.

Durante a chamada Guerra dos Canudos, foi chamada por um curto espaço de tempo de Cabo Roque, um suposto heroi.

Após um acidente com o dirigível Pax, que explodiu nos céus de Paris no ano de 1902, projetado por Augusto Severo que morreu no acidente, a Travessa do Ouvidor passou a se chamar Rua Sachet, em homenagem à um mecânico que faleceu juntamente com Augusto Severo. Entretanto, o antigo nome acabou prevalecendo ao longo dos anos.

Embora discreta, a Travessa do Ouvidor pode ser um ponto de interesse turístico ou de passeio para os fãs de Pixinguinha.

Ou para quem que quer visitar uma boa livraria e depois tomar algum drink no happy hour, como algumas pessoas que trabalham no centro do Rio assim o fazem.

Abaixo algumas cenas da pequena e estreita ruela.

Vista da Travessa do OuvidorWiskeria na Travessa do Ouvidor

Acima, foto da Travessa do Ovidor tendo em primeiro plano o saxofone de Pixinguinha. Mais ao fundo inúmeras placas de comércio, bares e lojas estabelecidas no local. Do lado direito um painel da Wiskeria Gouveia, que também se intitula "Escritório do Pixinguinha". No painel, aparecem caracturas de inúmeros personagens da música brasileira, de diferentes gerações.

Livrarias e Redações

Como já foi dito mais acima, na Travessa do Ouvidor existe a Livraria Travessa, uma das melhores da cidade, revivendo ou fazendo juz à uma tradição de tempos mais antigos, quando nesta rua existiram importantes livrarias, redações e editoras. Nesta rua surgiu uma antiga Livraria chamada Briguiet, que posteriormente viria a comprar a Livraria Garnier, ambas de importância no cenário e história das livrarias. A Editora Schettino que publicava os livros de Lima Barreto, a Editora Zélio Valverde e uma editora de Augusto Frederico Schmidt também tiveram sede no local. Estes nomes podem ser estranhos nos dias de hoje, mas a útima citada, a de A.F.Schmidt lançou escritores famosos como Otávido de Faria, Jorge Amado, Graciliano Ramos e Gilberto Freire com a primeira edição do famoso "Casa Grande e Senzala". E certamente todos estes escritores um dia passaram por esta rua.

Outras redações de periódicos e revistas que fizeram história no local foram "A Ilustração Brasileira", "O Malho" e "Para Todos". Esta ultima foi uma das mais lidas no local.

No século 19 uma antiga sede do Clube de Engenharia e a redação do jornal Tribuna Liberal, que era fiel ao regime de monarquia constitucional do tempo de D. Pedro II também tinham sede no local. Tão fiel era o jornal, que decorrido um ano da proclamação da República, a redação e gráfica do jornal foi invadida e destroçada por republicanos. Em um edifício da travessa, onde ficava uma antiga casa comercial chamada "Costa Pereira", foi palco para a sede do Integralismo, uma facção política que teve seu auge entre 1935 e 1938.

Um Certo Cabo Roque

Um dos mais curiosos episódios acerca do nome da Travessa do Ouvidor, está relacionado à um mal entendido ou estória forjada com fins jornalisticos acerca da chamada Guerra dos Canudos.

Por alguns dias, a Travessa do Ouvidor teve seu nome mudado para "Cabo Roque". Isto aconteceu na mesma época que a Rua do Ouvidor também teve seu nome mudado pela Câmara Municipal para Rua Coronel Moreira Cesar, comandante que chefiou uma tropa enviada contra os jagunços de Canudos, no interior da baía. A expedição foi derrotada o Coronel morreu no combate, o que o tornou um heroi.

O fato se tornou notícia relevante nos jornais da época, e quando chegaram as primeiras notícias, além da morte do Coronel, outro fato foi destaque. Foi noticiado que um certo Cabo Roque, que era ordenança ou ajudante imediato do Coronel havia morrido heroicamente, tendo tido seu corpo retalhado à facadas, após defender o cadáver do comandante das tropas, o Coronel Moreira Cesar.

A expedição embora derrotada, provocou comoção, e o Coronel foi levado à herói, teve seu nome dado à Rua do Ouvidor, e seu humilde servidor, que pereceu heroicamente junto com ele teve seu nome dado à Travessa do Ouvidor que passou à se chamar Travessa Cabo Roque.

Tempos depois, outras notícias chegaram com nova versão dos fatos. Dizia-se que o Cabo Roque apareceu salvo e sem ferimentos em Monte Santo, que não se tratava realmente de um heroi, e nem mesmo havia dado sua vida para defender a profonação do corpo de seu comandante. Segundo diz o escritor V. Coracy, quando o Cabo viu que a situação era complicada, este decidiu salvar a própria pele, abandonando o campo de batalha. Segundo o escritor seria uma deserção.

Em função dos novos fatos e versões que vieram à tona, as autoridades decidiram retirar as placas recém colocadas na travessa com o nome do Cabo. Com relação ao Coronel Moreira Cesar, que teve seu nome dado à Rua do Ouvidor, as placas lá permaneceram. Entretanto a rua teve seu antigo nome restaurado pela insistência popular de chama-la pelo antigo nome.

Teria o Cabo Roque Inspirado Peça de Dias Gomes ?

Se alguém se lembra de uma peça teatral ou estória de novela de TV, chamada de Roque Santeiro, fica aqui um comentário sobre alguma conexão entre as duas histórias. Certamente não são estórias que tem todo seu enredo igual, mas o personagem de destaque Roque Santeiro também foi tido como morto e dado como heroi, e tempos depois apareceu vivo. Então aqui fica a questão, teria Dias Gomes se inspirado na história e fatos acerca do Cabo Roque para escrever a peça "Roque Santeiro"?

Coincidências ou não, ambos tem o "Roque" no nome, e ambos foram tidos como mortos e como herois. Eu que escrevo este artigo, não sei das particularidades da criação de Dias Gomes. Mas certamente a interessante e genial estória de Dias Gomes parece ter sido inspirada nesta estória real.