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Baile da Ilha Fiscal

O Palacete da Ilha Fiscal é também muito conhecido por de ter sediado o último baile da Monarquia Constitucional e Parlamentar, em 9 de novembro de 1889.

Excesso de pompa e ostentação ou apenas pretexto para o golpe que proclamou a República?

O Ultimo Baile do Império e o Fim da Monarquia Constitucional e Parlamentar

Assim como ficou conhecido, o Baile da Ilha Fiscal foi organizado com requinte, e segundo alguns críticos com muita pompa e excentricidade, o que serviu como o derradeiro pretexto para o fim da Monarquia Constitucional Parlamentarista e Proclamação da República. E de fato a Proclamação da República Brasileira, ocorreu no dia 15 de mesmo mês, apenas 6 dias após o baile.

O motivo alegado para o baile era diplomacia envolvendo uma homenagem aos oficiais do navio chileno "Almirante Cochrane".

Entretanto, alguns interpretam também como se o Baile fosse uma demonstração de força ou tentativa de promover e revigorar o regime Monarquico, que ainda tinha bastante apoio popular, mas encontrava crescente e forte oposição política, embora dentro do parlamento o Governo tinha maioria.

A oposição vinha de setores tidos tanto como progressistas como também de setores retrógrados e reacionários. Existia a insatisfação nos circulos militares nacionalistas e progressistas, e também oposição por parte de politicos Republicanos. Existia também a perda de prestígio do Imperador devido à abolição da escravatura em 1888, e assim os setores que eram contrários à abolição da escravatura se voltaram contra a Monarquia.

Exposição de objetos sobre o Baile

Existe uma exposição permanente em uma das alas do palacete da Ilha Fiscal, que trata do "Ultimo Baile do Império", onde estão expostas algumas peças de vestuário, objetos decorativos utilizados e inclusive o convite original para festa.

Exposição sobre o Baile da Ilha Fiscal

Manequins trajam roupas utilizadas no Baile. Ao fundo, atrás das cortinas, uma pintura imita como estava o ambiente nos salões.

Xícara e menu feitos especialmente para o grande baile

Acima, xícara com pires e menú utilizados no baile.

Convite para o baile, assinado pelo Visconde de Ouro Preto

Acima o convite pessoal e instransferível, assinado pelo Visconde de Ouro Preto, chefe do gabinete do governo de então, ou Presidente do Conselho de Ministros, equivalente à Primeiro Ministro.

Dom Pedro II e Imagem do Governo

Por sua vez, o Imperador Pedro II era tido como um homem extremamente culto, interessado no progresso do Brasil. Dizem que ele próprio se considerava um cientista, e alguns também o consideram um homem que foi muito interessado nos avanços tecnológicos da época e trouxe estes avanços para o Brasil. Além do mais, Pedro II era um homem que realmente gostava do Brasil, tinha uma visão de progresso e preocupação com a defesa e autonomia do pais. Durante seu governo, se preocupou com as defesas da capital reequipando e aumentando o poder defensivo de fortalezas como o Fortaleza de São João e Fortaleza de Santa Cruz entre outras.

Pedro II era tido como um Rei popular, e regularmente concedia audiência para cidadãos comuns. Muitos politicos e apoiadores apostavam em sua continuidade e no regime Monarquico Constitucional. E talvez para promover a Monarquia, apostaram neste baile, que na verdade foi uma aposta totalmente errada, dando pano para as mangas dos opositores. Como se diz popularmente, o resultado no balanço geral foi "um tiro pela culatra". O baile pode ter sido interessante como prestígio para todos os políticos e apoiadores que foram convidados, mas foi um divisor de águas para os indecisos ou que tinham menos prestígio e não foram convidades e se sentiram melindrados ou desprestigiados. E para os inimigos o motivo que faltava para justificar o fim da Monarquia Constitucional.

Na verdade a Monarquia já estava políticamente enfraquecida, e havia necessidade apenas de um pretexto significante perante a opinião pública, para colocar um fim no regime Monarquico Constitucional e iniciar a era Republicana.

Como foi o Baile

Em torno de 3 a 5 mil pessoas participaram do baile, que foi até o amanhecer. A ilha estava taõ cheia, que não era possivel que todos os convidados entrassem no palacete ao mesmo tempo. Muitos ficaram apenas de fora a circular pela Ilha. Mas a comida e bebida era farta, requintada e foi servida à todas.
Duas orquestras tocaram por toda a noite enquanto os convidados dançavama e perambulavam pela ilha. O som das orquestras preenchiam todos os ambientes, inclusive ao ar livre, provavelmente e certamente o local onde a maioria dos convidados circulavam e dançavam.

A Ilha foi especialmente decorada e iluminada, vários e inúmeros móveis foram especialmente trazidos para festa, principalmente para decorar e ambientar os salões mais reservados ao Imperador e Princesa Isabel, mas o conforto foi proporcionado por toda a Ilha.

Quanto ao serviço foi luxuoso, e muitos pratos exóticos e requintados foram servidos. Os convites entregues ao convidados também eram luxuosos e carregavam ostentação desnecessária, mas talvez usual para a época ou para o tipo de evento a que os organizadores se propunham.

As Cenas do Baile e Quadro com Alegoria de Mudança do Regime

A pintura abaixo mostra o baile, com convidados vestidos à rigor e a Ilha iluminada durante a festa que só terminou ao amanhecer

Pintura retrata o Baile da Ilha Fiscal

Acima, a principal parte do quadro de Francisco Figueiredo, cujo original se encontra no Museu Histórico Nacional, mas uma cópia se encontra emoldurada em um dos salões do palacete da Ilha Fiscal. O quadro retrata o belo e faustoso baile organizado no local.

Dom Pedro II e a Familia Real aparecem à direita, em torno do qual as pessoas se aglutinam, porém deixando um espaço vazio diante dele, e tendo perto, imediatamente ao lado os oficiais do Encouraçado Almirante Cochrane. D.Pedro é o homem de babas longas, cuja face aparece bem iluminda.

Este quadro também tem particularidades interessantes. Salvo engano começou a ser pintado antes da proclamação da república, e o que talvez devesse ser apenas uma representação do baile, acabou incorporando alegorias que aparecem na parte superior do quadro, talvez feita ao final do trabalho.

Amplie a imagem para ver o quadro em sua totalidade, e voce poderá observar que, entre as nuvens uma mulher caminha com a bandeira do Brasil à frente do que seriam os republicanos representando a chegada da república. Do outro lado a representação do Regime Monarquico Parlamentar.

A mulher que segura a bandeira, seria uma alusão à Marianne, uma figura alegórica que representa a República Francesa, que apareceu em um famoso quadro de Delacroix chamado "A Liberdade guiando o povo".

Esta figura, de forma alegórica, passou a representar a república de um modo geral, existindo inclusive estátuas representando "Marianne" em um salão do Palácio Tiradentes, erguido no início do Século 20 no Rio de Janeiro, antiga sede da Camara dos Deputados e onde os Presidentes da República tomavam posse.

Acrescentando esta alegoria, talvez o pintor tenha se livrado de parecer partidário do Império ou de fazer apologia da Monarquia, e assim teve seu quadro aceito sem o risco de te-lo retalhado aos pedaços.

Reunião no Clube Militar enquanto o baile se realizava

No mesmo dia, ao entardecer, enquanto os convidados elegantemente trajados chegavam para o baile, no Clube Militar, o tenente-coronel Benjamin Constant, presidia uma reunião com os republicanos para articular o fim e queda da monarquia.

A Proclamação da República e o fim da Monarquia Constitucional aconteceu 6 dias após o baile

E assim, decorridos seis dias do baile, no dia 15 de Novembro de 1889, a República foi Proclamada dando início à uma nova era no Brasil. A proclamação da República naquela época, foi feita por meios revolucionários, não tendo existido uma transição absolutamente legal quanto à mudança da constituição.

A mudança, sob a ótica social, era necessária em função dos novos tempos, novos anseios e amadurecimento da nação. Embora a Monarquia fosse contitucional, a participação política e influência da população era restrita, e o sistema era considerado elitista. De certo modo a influência política era indexada à posse de bens ou posição social hereditária ou nobreza por descendência ou mercê régia (nobreza conferida pela Monarquia). E questionava-se a legitimidade de um lider máximo advinda de título de nobreza hereditária e não por méritos pessoais. A idéia da Monarquia não era mais amplamente sustentável diante das novas visões políticas e filosóficas.

Além de outros fatores, pesava o fato de Pedro II ter como legítima herdeira ao trono a Princesa Isabel casada com um Conde Francês, e na época, a figura e influência de um principe consorte estrangeiro também incomodava. Na verdade o questionamento era mais voltado contra a legitimidade da Monarquia e sua continuação. Quanto à legitimidade de Pedro II como lider, este não era o alvo de críticas, já que era popular, respeitado e tido como uma pessoa integra.

Após uma série de fatos, o Brasil entrou em uma nova era, com a proclamação da República. Após ser formalmente comunicado pelos militares, o Imperador Pedro II foi exilado e deixou o Brasil com sua família indo para a Europa.

Entretanto o Brasil ainda assim pode se sentir um pais privilegiado de ter tido como ultimo governante do regime Monarquico Constitucional, Pedro II, um homem de visão progressista e aberta para o futuro. Em outras palavras, seu legado foi uma estrada pavimentada em direção à um futuro próspero para o pais.

Embora o fim da Monarquia Constitucional fosse inevitável, existe a crítica quanto ao processo como aconteceu. Muitos homens de bem consideram a deposição de D.Pedro II uma grande deslealdade para uma figura que sempre honrou o Brasil, promovendo desenvolvimento e sua defesa. Alegam que, mais justo seria que existisse uma transição. Que a transição para a República fosse feita em decorrência da morte de D.Pedro II, que já se encontrava em idade avançada, transição esta que poderia ser feita de forma políticamente negociada ou não. Mas estes são meros comentários acerca da história. Entretanto com o decorrer dos anos, existiu uma consciência quanto à importância da figura de D.Pedro II, que recebeu novamente seu reconhecimento por parte dos governos que se sucederam através de inúmeras homenagens.