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Largo Rócio em 1821, Atual Praça Tiradentes

Largo do Rócio em 1821 | Atual Praça Tiradentes

Um evento histórico no Largo do Rócio, atual Praça Tiradentes, serviu de pretexto para a produção de um documento iconográfico acerca da história da Praça, e situação daquele Largo em 1821. Se tratava da "Aceitação Provisória da Constituição de Lisboa".

Evento Histórico no Largo do Rócio | Aceitação Provisória da Constituição de Lisboa

O desenho que Debret fez do Largo do Paço, atual Praça Tiradentes, mostrado no topo da página, representa o Largo num dia em que D.João VI e D.Pedro I que seria seu sucessor, apareceram no terraço do Teatro da Corte, para dar o aceite solene da constituição provisória de Lisboa.

Este teatro, na época o maior do Rio de Janeiro, ficava exatamente onde foi construído o atual Teatro João Caetano, após a demolição do antigo Teatro da Corte. Veja com mais detalhes e legendas a gravura de Debret sobre o Largo do Rócio em 1821, atual Praça Tiradentes.

Mais abaixo, está o texto de Debret, relatando o fato ocorrido. Em alguns textos, não somente neste texto, mas em outros, pode-se notar que, infelismente Debret tende a relatar a figura de D.João VI e alguns fatos relativos ao Brasil, sempre com um certo esnobismo ou com desapontamento. A visão de Debret certamente não corresponde à uma visão de quem veja as coisas por um lado mais realista e prático, e sem tantas expectativas fantasiosas que levariam personagens históricos a se assemelharem à semi-deuses, para contar com a simpatia do grande artista, pintor e escritor. Eis o texto que se segue:

"Além de não ter sabido prever nem dominar, a revolução que rebentou em Lisboa, deixaram igualmente os ministros de D. João VI que ela invadisse, e quase com a rapidez do relâmpago, todas as províncias do Brasil, onde alguns patriotas esclarecidos já vinham organizando uma revolução cujos objetivos e princípios a maioria da nação brasileira ignorava. Esse era o estado de espírito do país quando, em princípios de 1821, os emissários de Portugal vieram perturbar a tranquilidade do governo do Rio de Janeiro, exigindo do Rei a aceitação antecipada da constituição prometida pelas Cortes de Lisboa. Em tais circunstâncias, não menos humilhantes para o soberano do que para a nação brasileira, o Rei concedeu tudo e, para acalmar os espíritos, anunciou o seu regresso para Portugal, juntamente com a nomeação de seu filho D. Pedro para Vice-Rei e Regente do Brasil. Mas, tímido como de costume, valeu-se o monarca da nova responsabilidade que pesava sobre seu filho para encarregá-lo de ir oficialmente, em seu lugar, ao Rio de Janeiro proclamar sua adesão provisória à Constituição portuguesa.

Viu-se portanto, no dia seguinte, ali pelas nove horas da manhã, chegar ao Rio de Janeiro o jovem príncipe D. Pedro, acompanhado simplesmente de algumas pessoas; sobe ele e aparece ao terraço da fachada do Teatro Real onde, assistido pelo presidente do Senado da Câmara Municipal, e por algumas outras autoridades, jura publicamente, pelos Santos Evangelhos, obedecer à Constituição portuguesa "tal como fosse sancionada pelas cortes de Lisboa". Finda a formalidade, monta o príncipe a cavalo e regressa a São Cristóvão.

Em virtude de uma exagerada desconfiança, e para garantir a tranquilidade durante essa solene notícia, espalhara-se a força armada pelo largo do Rocio, cujas saídas estavam defendidas pela artilharia. Como esse juramento ilusório, prestado a uma obra incerta, só podia interessar nessa época as autoridades e os cortesões portugueses, únicos ameaçados nas suas prerrogativas feudais, as precauções tomadas pareceram ridículas, tanto mais quanto a cerimónia atraíra apenas alguns curiosos.

O Rei, mais ou menos tranquilizado pelo regresso de D. Pedro, que lhe comunicara as disposições pacíficas do povo, resolveu ir ao Rio afim de ratificar publicamente o juramento de seu filho.

Para aí se dirigiu, com efeito, lá pela uma hora da tarde, não hesitando em mostrar-se em sua sege descoberta; sua filha sentara-sé junto dele (a jovem viúva), e na frente o príncipe D. Miguel, de pé, com a mão apoiada na capota descida da carruagem, olhava fixamente os curiosos parados à sua passagem. Comovido, mantinha o Rei uma atitude de imperturbável seriedade e a jovem viúva mostrava dignidade e resolução; quanto a D. Pedro, que, a cavalo e cercado de seu estado maior, precedia a carruagem real, lia-se em seu olhar cheio de entusiasmo e de franqueza a dedicação e a boa fé que pusera nesse primeiro juramento cujas consequências sua jovem inexperiência não percebia.

Chegados ao palácio, o Rei apareceu pela primeira vez à janela do lado da praça, e, apontando para D. Pedro colocado na segunda janela, disse em voz alta que "ratificava tudo o que dissera seu filho"; e retirou-se em seguida. Minutos depois o cortejo real punha-se novamente em marcha para regressar a São Cristóvão.

Essa tímida imitação da cena da manhã não atraiu tão pouco muitos espectadores; foi a última vez que o Rei apareceu em público, terminando assim, por uma fraqueza sua, a estadia no Rio de Janeiro, que outra fraqueza o levara o Rei à preferir o Rio de Janeiro ao invés da Baía, por causa da segurança do porto."