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Festas de Natal no Século 19

Festas de Natal no século 19 no Brasil

O Natal na visão de Debret, um artista francês e pintor de história que fez parte da Missão Artistica convidada por D.João VI para vir ao Brasil. Debret relata costumes natalinos através de uma gravura sua produzida na primeira metade do século 19.

Jean Baptiste Debret ao tempo em que esteve no Brasil não somente documentou cenas da família Real como também documentou cenas da paisagem e arquitetura da cidade do Rio de Janeiro, e também cenas do cotidiano das pessoas que viviam na cidade.

Debret chegou ao Brasil depois da chegada de D.João VI, e retornou após a abdicação de D.Pedro I, quando o pais passou a ser governado pela "Regência", quando D.Pedro II ainda era muito pequeno.

A gravura de sua autoria e o episódio descrito nesta página, fazem parte de suas memórias publicadas em um livro em Paris. Este livro foi escrito e publicado após seu retorno à França.

A gravura retrata um grupo de pessoas caminhando em direção à um sítio, levando objetos e bagagem contendo preparativos para uma festa de natal. Acompanhando a gravura, mais abaixo está o texto de Debret, onde ele descreve os hábitos costumes daquela época.

Veja também presentes e costumes de natal no século 19.

A Caminho do Sítio Para As Festa de Natal

A caminho do sítio para as festa de natalAo lado a gravura de Debret, mostrando uma cena relacionada à costumes e hábitos de natal na primeira metade do século 19 no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.

Esta gravura no livro de Debret foi entitulada "Mulata a caminho do sítio para as festas de natal".

Festejos de Natal na Primeira Metado do Século 19 no Brasil

O texto abaixo de Debret fala sobre os costumes durante os festejos e feriados de natal naquela época e também descreve a prancha acima, de sua autoria. Na verdade, ele relata o que observou durante sua permanencia no Brasil, descrevendo não somente a época de natal, mas também pinta um retrato escrito da sociedade brasileira naquele tempo.

Deve-se lembrar que o texto foi escrito pelo autor no início do século 19, descrevendo uma época onde ainda existia a escravatura, e algumas partes podem estar em linguagem politicamente incorreta. As partes entre aspas constituem o texto original.

Nesta parte do texto, um retrato da sociedade

"As festas do Natal e da Páscoa, sempre favorecidas no Brasil por um tempo magnífico, constituem épocas de divertimentos tanto mais generalizados quanto provocam mais de uma semana de interrupção no trabalho das administrações e nos negócios do comércio; o descanso é igualmente aproveitado pela classe média e pela classe alta, isto é, a dos diretores de repartições e dos ricos negociantes, todos proprietários rurais e interessados, portanto, em fazer essa excursão em visita às suas usinas de açúcar ou plantações de café a sete ou oito léguas da capital.

Quanto aos artífices, reunidos na casa de seus parentes ou amigos, proprietários de sítios vizinhos da cidade, aproveitam essas festas para gozar em liberdade os prazeres que essas curtas e pouco dispendiosas excursões lhes permitem. Basta-lhes com efeito mandar levar sua esteira e sua roupa pelo seu escravo. À noite, à hora de dormir, as esteiras desenroladas no chão, cada qual com seu pequeno travesseiro, formam leitos de emergência distribuídos pelas três ou quatro salas do rés-do-chão, que constituem uma residência desse tipo. No dia seguinte, ao romper do dia, ergue-se o acampamento e os mais ativos se separam para ir passear ou banhar-se nos pequenos rios que descem das montanhas vizinhas. O exercício da manhã abre o apetite; volta-se para almoçar, mas inventam-se divertimentos mais tranquilos para o momento do sol forte até uma hora da tarde quando se janta. De quatro às sete dorme-se e, depois da Ave-Maria dança-se durante toda a noite ao som do violão. Deliciosos momentos de fresca, empregados pelos velhos na narrativa de suas aventuras do passado e pelos moços em dar origem a alguns episódios felizes, cuja recordação encantará um dia a sua velhice.

Este ligeiro esboço dá entretanto apenas uma pobre ideia das brilhantes recepções realizadas na mesma época nas imensas propriedades dos ricos que, por vaidade, reúnem numerosa sociedade, tendo o cuidado de convidar poetas sempre dispostos a improvisar lindas quadrinhas e músicos encarregados de deleitar as senhoras com suas modinhazinhas. Os donos da casa também escolhem, por sua vez, alguns amigos distintos, conselheiros acatados do proprietário na exploração da fazenda que visitam demoradamente com ele, ao passo que, ao contrário, os jovens convidados, ágeis e turbulentos, entregam-se a essa louca alegria sempre tolerada no interior. Aí todos os dias começam, para os homens, com uma caçada, uma pescaria ou um passeio a cavalo; as mulheres ocupam-se de sua toilette para o almoço das dez horas. À uma hora todos se reúnem e se põem à mesa; depois de saborear, durante quatro a cinco horas, com vinhos do Porto, Madeira ou Tenerife, as diferentes espécies de aves, caça, peixes e répteis da região, passam aos vinhos mais finos da Europa. Então o champanha estimula o poeta, anima o músico, e os prazeres da mesa confundem-se com os do espírito, através do perfume do café e dos licores. A reunião prossegue em torno das mesas de jogo; à meia noite serve-se o chá, depois do qual cada um se retira para o seu aposento, onde não é raro deparar com móveis, perfeitamente conservados, de fins do século de Luiz XIV.

No dia seguinte, para variar, vai-se visitar um amigo numa propriedade mais afastada; tais cortesias aumentam ainda os prazeres dessa semana que sempre parece curta demais. Alguns amigos íntimos, que dispõem de seu tempo, ficam com a dona da casa, cuja estada se prolonga durante mais seis semanas ainda, em geral, depois do que todos tornam a encontrar-se na cidade."

Nesta parte do texto, Debret descreve a gravura acima

Em algumas partes Debret foi hipercrítico e usou de linguagem imprópia para os tempos atuais. Tentei reduzir algum termo agressivo sem mudar o sentido da descrição.

"A senhora mulata representada aqui é da classe dos artífices abastados. Sua filhinha abre a marcha conduzindo pela mão um menino negro, a seu serviço particular; vem em seguida a pesada mulata, em lindo traje de viagem, que se dirige a pé para o sítio situado num dos arrabaldes da cidade.

A senhora mulata possui uma criada de quarto, uma mulher negra, que a acompanha carregando o pássaro predíleto. Logo depois a primeira mulher negra de serviço, com o gongã, cesto em que se coloca a roupa branca. A terceira mulher negra carrega o leito da senhora, um elegante travesseiro enrolado numa esteira de Angola, (bastante bem imitada na Baía). A quarta, é uma encarregada de trabalhos considerados menos nobres, uma lavadeira quase sempre grávida, que carrega os pertences das outras companheiras; e a moça negra mais nova acompanha humildemente o cortejo, carregando a provisão de café torrado e a coberta de algodão com que se envolve à noite para dormir."