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Morro da Viuva

O Morro da Viúva separa a Praia de Botafogo e Praia do Flamengo, e em tempos passados era um dos pontos marcantes que ajudava a compor um dos mais belos e pictóricos cenários naturais da cidade, a Enseada de Botafogo. Juntamente com o Morro do Pasmado na outra extremidade, o Morro da Viúva delimita a enseada, que tanto foi representada em aquarelas e óleos do século 19.

Um morro ofuscado pelas construções, obras e pelo desenvolvimento da cidade

Na composição de paisagens naturias do Rio de Janeiro, o Morro da Viúva hoje em dia passa despercebido, pois está totalmente cercado e rodeado de prédios altos.

Quem passa ao seu rodor ou vê à partir do chão mesmo a longa distância, dificilmente notará que por trás daqueles paredões de prédios existe uma montanha que um dia compôs poeticamente os cenários do Rio.

Enfim, em tempos passados, já teve muito mais importância, era mais notado e até ponto de referência dos antigos moradores.

Morro da Viuva em 1840

Morro da Viuva em 1840

Nas primeira metade do século 20, foi construída a Avenida Ruy Barbosa que contorna o morro do lado do mar. A av. Ruy Barbosa se inicia na ponta da Avenida Oswaldo Cruz do lado do Flamengo e segue até a outra ponta que chega em Botafogo, sendo que ambas as avenidas ligam os dois bairros. A avenida Ruy Barbosa pode ser tida como um prolongamento da Av. Beira Mar, aberta e construída sobre aterros em 1906, avenida esta que segue ao longo de parte da orla do Rio, desde o final da Av. Rio Branco na Cinelândia até o final da Praia do Flamengo.

Morro da Viúva à direita da enseada de Botafogo

Acima o Morro da Viúva, à direita da Enseada de Botafogo e no início da Praia da Flamento. O morro hoje está totalmente cercado de edíficios e tem a parte final do Aterro do Flamengo ao seu redor. Antigamente suas encostas chegavam ao mar.

Morro da Víuva e Enseada de Botafogo em aquarela de 1817-1818

Acima, a aquarela de 1817-1818, de Thomas Ender registra a Praia de Botafogo tendo ao fundo, em sua extremidade o Morro da Viúva. Ao longo da praia existem diversas casas, sendo uma delas que pertenceu à D.Carlota Joaquina, esposa de D.João VI. Onde havia a casa, hoje existe um edifício de apartamentos, na esquina com a Rua Marques de Abrantes, antigamente Caminho Novo de Botafogo.

A origem do nome Morro da Viúva e seus proprietários

A Câmara da Cidade do Rio de Janeiro, era tida como proprietária do morro, até antes dos anos de 1667 e 1753, quando foram feitas medições da sesmaria de sua propriedade, e uma das referências da sesmaria seria a "casa de pedra", que constava como ponto de referência.

Segundo o historiador Vieira Fazenda, o Morro da Viúva tinha outro nome antes de 1753. Inicialmente foi chamado de Morro do do Lery, por causa do missionário protestante francês Jean Lery, que esteve na Guanabara juntamente com Villegaignon, na metade do Século 16, pouco antes da fundação da Cidade do Rio de Janeiro por Estácio de Sá.

Em função de desentendimentos com Villegaignon, Lery teria residido na "Casa de Pedra" próxima ao Morro da Viúva mas perto da Foz do Rio Carioca. Esta casa de pedra, foi provavelmente erguida por Martim Afonso de Souza quando esteve na Guanabara por três meses, em 1532. Em função da proximidade com o morro, durante algum tempo este teria sido chamado de Morro do Lery.

O nome de Morro da Viúva decorre do fato de, posteriormente ter pertencido à uma viúva chamada D. Joaquina Feigueiredo Pereira Barros, tendo esta recebido a propriedade por herança de seu marido, Joaquim José Gomes de Barros.

Morro de difícil ocupação

Após a fundação da Cidade por Estácio de Sá em 1565 e da derrota definitiva dos franceses invasores e seus aliados tupinambás em 1567, Mem de Sá decidiu mudar a Cidade Velha do Morro Cara de Cão para algum ponto alto, distante da entrada da barra da Baía de Guanabara por motivos defensivos.

Havia muita preocupação com invasões corsárias e portanto, o local para os novos assentamentos deveria também proporcionar boa vista da entrada da baía, evitando assim serem pegos por ataques surpresas.

Entre os morros que poderiam ser escolhidos para construção de um forte e assentamentos, talvez estivessem os morros do Pasmado, o Morro da Viúva e o Morro da Glória, e o Morro de São Januário (depois chamado de Morro do Castelo) que proporcionavam pontos altos, mas eram de altura e topografia acessível.

Os morros do Pasmado e da Viúva são pequenos e muito rochosos, e o morro da Glória bastante íngreme ou inclinado.

Existe também o Morro de Santo Antônio, mas este era mais afastado do mar, além de ter uma lagoa à sua frente, onde hoje é o Largo da Carioca.

Certamente foi escolhido o Morro de São Januário (depois chamado Morro do Castelo ou Morro do Descanso), pois além de ter área suficiente, tinha vista para a entra da Baía e era um ponto alto próximo ao mar. Esta última característica tinha duas vantagem, condições adequadas para instalar baterias de tiro e contato próximo com as naus da coroa que aqui aportavam, para trazer suprimentos e levar mercadorias.

O Morro da Viúva, embora fosse também bem localizado, tinha como vantagem estar perto da foz do Rio Carioca, mas como desvantagem sua formação geológica rochosa, o que dificultaria a construção do casario, edificações e fortaleza, como as que foram erguidas no Morro do Descanso (ou Morro do Castelo).

Fortificações no Morro da Viuva

Embora inúmeras forticações e baterias de tiro tenham sido instaladas em diversos pontos da Baía de Guanabara, o Morro da Viúva ficou esquecido para fins militares até a segunda metade do século 19.

Quando aconteceu a Questão Christie, um polêmico atrito diplomático entre o Brasil e Inglaterra (o mais correto seria dizer Reino Unido), uma forticação foi erguida no morro, em 1863, cujo intuito era defender a enseada de Botafogo e praia do Flamengo até próximo ao Passeio Público. Esta fortificação do Morro da Viúva era uma bateria suplementar de defesa e apóio às Fortalezas de São João, Lage e Villegignon.

Entretanto, devido à distância das demais fortalezas, ao que parece, talvez desse mais uma sensação de segurança. Além disto, o pequeno espaço disponível no local e a pouca altura de instalação, a tornavam vulnerável. Esta bateria foi descrita por um Engenheiro Militar, em uma Revista do Instituto Histórico.

Em função das desvantagens, a bateria de tiro instalada no local nunca teve grande importância e não consta de muitos relatos. Entretanto, não tendo grande importância ou tendo sido posteriormente desprezada, o Morro da Viuva foi novamente fortificado durante a Revolta da Armada, entre os anos de 1893 e 1894. Armada era o nome que se dava à Marinha naquela época.

Pedreiras do Morro da Viúva e Pasmado

Tanto o Morro da Viúva como o Morro da Pasmado, um em cada extremidade da Enseada de Botafogo, forneceram pedras para construções do Rio de Janeiro, tanto nos tempos coloniais como também nos tempos do Império.

As pedras em granito usadas na construções do Mosteiro de São Bento, assim como para outras obras dos governos de então, vieram do Morro da Viúva. Do Morro do Pasmado, foram extraidas a pedras para a "cantaria" ou partes construtivas em pedra do Castelinho da Ilha Fiscal.

Morro da Viúva visto em fotos de diferentes pontos de vista

Na primeira foto abaixo, do lado esquerdo vemos o Morro da Viúva, que nos dias de hoje está todo cercado de prédios. Na foto ao centro, vemos o morro, que se visto de perto, fica bastante ofuscado pela brutalidade das construções ao seu redor.

Morro da Viúva visto de cimaMorro da ViúvaMorro da Viúva visto do Morro da Urca

Em tempos passados, como na aquarela do início do século 19, vemos que o Morro da Viúva era uma referência na paisagem do Rio de Janeiro, e emuldarava por um lado a enseada de Botafogo, que tem no outro extremo o Morro do Pasmado, hoje também bastante ofuscado pela brutalidade grandiosa das construções.

Até as primeiras décadas do século 20 o mar chegava nas encostas do morro. Posteriormente foi construída ao seu redor pelo lado do mar, a Av. Rui Barbosa, que era uma continuação da Av. Beira Mar de 1906.

Um aterro maior com áreas verdes e grandes pistas de rodagem em volta do Morro, acrescido ao longo da Av. Rui Barbosa, foi feito entre o final dos anos 1950 até por volta de 1965, chamado aterro do Flamengo, quando então foi inaugurado o Parque do Flamengo.

Na foto também acima, do lado direito, vemos o Morro da Viuva em foto tirada do topo do Morro da Urca. Observe que o Morro divide os bairros e praias de Botafogo e Flamengo. Além de cercado de prédios, foi cercado por aterros do lado do mar.

Referencias:

  • Consulta a diversos livros sobre a história e iconografia do Rio de Janeiro para dar suporte à criação desta página.