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Rio Carioca

Sobre o pequeno Rio Carioca que deu nome aos nativos do Rio de Janeiro, e que por muitos anos foi a principal fonte de água potável para os primeiros navegantes que aqui chegaram assim como principal fonte de abastecimento da cidade.

O Rio Carioca foi a mais antiga e primeira fonte de água potável para o Rio de Janeiro

Nos dias de hoje, em 2011, talvez poucas pessoas se lembrem ou saibam algo sobre o Rio Carioca, e talvez nem saibam que o termo "Carioca" que distingue orgulhosamente os nativos da cidade do Rio de Janeiro, tem suas origens nas águas de um Rio.

Mas nem sempre foi assim. O Rio Carioca já foi o Rio mais conhecido e talvez o mais importante do Rio de Janeiro, pois foi o primeiro provedor de água potável para quem chegou ao Rio, e também porque durante anos abastecia os mais importantes chafarizes da cidade, desde os tempos coloniais.

A controversa origem do nome dado ao Rio Carioca

Alguns livros citam que o nome Carioca dado ao Rio vem de uma casa construída em pedra, na foz deste Rio, junto ao mar. Os índios Tamoios, habitantes do local que futuramente seria a cidade do Rio de Janeiro, chamavam a casa de pedra de "casa homem do branco" que em lingua dos Tamoios seria "Carioca".

Em contrapartida, existem outras traduções, onde "Carioca" significaria "casa da corrente do mato" ou "casa do acari" entre outras hipóteses. O termo tido por estudiosos e autores como controverso, alguns consideram um verdadeiro enigma etimológico. E difícilmente chega-se à uma conclusão deifinitva ou única.

Águas que fizeram história e deram nomes a locais do Rio de Janeiro

As águas do Rio Carioca eram cobiçadas e afamadas, e delas surgiu um ditado para se referir à boas coisas - "Isto é bom coma a água da Carioca". Com o tempo, a palavra Carioca que pode ter sido usada para referir-se à "Casa de Pedra", passou a dar nome ao Rio Carioca. Depois passou a dar nome também á Serra da Carioca, de onde descia a correnteza do Rio.

Posteriormente passou a dar nome também aos moradores da Serra da Carioca, e à seguir ao Aqueduto da Carioca e Chafariz da Carioca, e por consequência ao Largo que com o tempo também passou a se chamar Largo da Carioca.

Mais tarde deu origem ao termo que diz respeito aos nascidos na Cidade do Rio de Janeiro, termo este que se tornou mais usado após a proclamação da República.

Onde ver o Rio Carioca nos dias de hoje

Exceto para quem se aventura pelas matas da Serra da Carioca, o Rio Carioca somente pode ser visto em pequenos trechos, como no Largo do Boticário no Cosme Velho, e em uma pequena praça quase encostada neste mesmo Largo.

Rio Carioca vista da ponte do Largo do Boticário

Na parte do Largo do Botícário a visão do pequeno trecho do rio é mais pitoresca, como na foto acima, tirada da pequena ponte que dá acesso ao largo.

Rio Carioca visto do Largo do Boticário

Duas curiosas escadas de pedras afixadas em um parede de uma casa construída ao lado do Rio parecem ser algum antigo acesso ao leito do Rio.

Na pequena praça, para onde o Rio desce após passar pelo largo do Boticário, este já se encontra canalizado a céu aberto por muros de concreto. Apenas uma parte da corredeira é vista vindo de um trecho de mata, corredeira esta que acaba de passar pelo Largo do Boticário. Veja fotos mais abaixo.

Após este trecho do rio, visto na pracinha do Cosme Velho, um pouco acima da Estação de Trem do Corcovado, e perto de uma entrada e saída do Túnel Rebouças, o rio segue canalizado sob as vias pavimentadas até o mar.

Desembocadura do Rio Carioca no Flamengo

Acima o trajeto do Rio Carioca, marcado em azul, que desce sob as Ruas Conde de Baependi e Barão do Flamengo após ter sido canalizado. Antigamente o Rio desaguava em frente à Rua Barão do Flamengo. Com intuito de despoluir a praia do Flamengo, cuja faixa de areia foi feita na época do Aterro do Flamengo, o Rio foi novamente desviado para um enroncamento artificial, próximo de onde se encontra um restaurante, atual Porcão. Amplie a imagem para ver melhor.

Um pouco antes, mas próximo de chegar ao encontro do mar, uma pequena parte de seu percurso é feita à céu aberto, onde existe uma estação de despoluição, e depois o percurso é novamente coberto por algumas centenas de metros até desaguar.

Águas Puras e Cristalinas

Deixando de lado as incertezas que cercam o nome, vamos passar às certezas que o Rio dava à quem desfrutava de suas águas. As águas do Rio eram límpidas, cristalinas e o mais importante, potável. Estas certezes, constatadas ao olhos e paladar dos que viam o Rio, certamente fizeram com que o local da foz do Rio fosse escollhido para a construção da casa, misto de lenda, e misto de certeza, um dia foi importante até para demarcação de terras doadas, quando da fundação da cidade.

O local onde existiu a Casa de Pedra que ficava perto da foz do Rio, era chamado de "aguada dos marinheiros", pois era naquele local que os homens do mar, vindos de terra distante, abasteciam seus navios. Posteriormente a água foi canalizada para os moradores do Morro do Castelo e áreas adjascentes, quando então a cidade nascia e crecia. O Morro do Castelo situava-se na atual esplanada do Castelo, uma ampla área tornada plana, onde um dia existiu o morro, e muitas construções que vinham dos tempos da fundação da cidade. No local, nos dias de hoje existem os edifícios do MEC, o edifício do Ministério da Fazenda e do Trabalho e muitos outros construídos após o arrasamento daquele morro.

Nascentes, Caminhos, Vertentes e Delta do Rio Carioca

O Rio Carioca possui várias nascentes na Serra do Carioca, onde vários pequenos riachos convergem para formar um outro pequeno rio, que desce pelo antigo Vale das Laranjeiras, descendo a atual Rua Cosme Velho e Rua das Laranjeiras.

Em tempos remotos, um dos ramos do Rio chegava pelo "Catete" que significa "Mato denso e fechado", passava e formava uma lagoa onde hoje existe o Largo do Machado, e depois circundava o Morro da Glória, até lançar-se na ao mar.

Outro ramo do Rio seguia pelas ruas Conde de Baependi e Barão do Flamengo. Anexa à junção das duas ruas, exite a atual Praça José de Alencar. Estes dois ramos do Rio formavam a Ilha da Carioca, ou seja, o delta do Rio Carioca.

Antiga Ponte e Pedágio

Sobre o ramal que descia e atravessava a atual Praça José de Alencar, um dia existiu uma ponte chamada Ponte do Salema, que dava continuação ao caminho que levava à Botafogo e à Cidade Velha (antiga parte da Urca, vide Morro Cara de Cão).

O nome da ponte vem de seu construtor, o então Governador António Salema. Para atravessar a ponte, era cobrado pedágio. Portanto, fica aqui anotado que esta prática não é nova, e vem de tempos muito remotos.

A Ilha da Carioca

Não se deve confundir o Delta do Rio Carioca que existia onde hoje é a Praça José de Alencar, com outro local chamado de Ilha da Carioca. A Cidade Velha, onde Estácio de Sá fez os primeiros assentamentos no Morro Cara de Cão, na Urca, era também chamada de Ilha da Carioca.

O nome Ilha decorre do fato de que, em tempos remotos, o mar entrava pela Praia Vermelha e se comunicava com Botafogo, provavelmente em maré alta ou talvez banhando um raso canal entre as montanhas.

Ou seja, na prática existia uma faixa de mar ou canal entre o Morro da Urca e o Morro da Babilônia.

Dados sobre o Rio Carioca e seu trajeto

O Rio Carioca tem sua grande importância nos primórdios e até no final do século 20 por ter sido o principal provedor de água para os marinheiros e návios, assim como para os primeiros assentamentos e também fornecimento de água para os principais chafarizes da cidade, como o antigo Chafariz do Largo da Carioca.

Portanto fica aqui registrado que, sua importância estratégica e histórica, transcende em muito sua extensão física, já que não é um Rio de grandes proporções, tendo um comprimento entre 4300 e 4500 metros, sendo formado apenas por pequenos riachos afluentes.

O volume de água do Rio também não é grande em situações normais, mas era o suficiente a então crescente Cidade do Rio de Janeiro.

O rio nasce acima das Paineiras, onde ficava o antigo Hotel das Paineiras, na Serra da Carioca. Suas águas são captadas através de um reservatório da Rua do Aqueduto, perto do Silvestre, e a seguir descem pelo antigo "vale da laranjeiras", ou seja, pelo Cosme Velho, e continua a descer hoje, canalizado pela Rua das Laranjeiras e outras, até à praia do Flamengo.

Segundo um morador de Laranjeiras, quando chove muito e o volume de águas aumenta, o Rio estoura algum bueiro ou até o asfalto e suas águas jorram rua afora. Quem sabe não é "alma" do Rio que revoltada por ter sido desprezado e jogado por baixo da terra, se revolta e volta e meia lembra aos moradores daquele local que suas águas continuam a correr resistindo heroicamente pela cidade.

Na altura do Cosme Velho, o Rio Carioca recebe dois pequenos afluentes, pelo lado direito o riacho Lagoínha e pela lado esquerdo o Silvestre, na altura de uma rua chamada ladeira do Ascurra.

Fotos do Rio Carioca à descoberto

Abaixo, na foto da esquerda o Rio Carioca já canalizado entre muretas de concreto em Praça no Cosme Velho.

Na foto também abaixo, no centro, vemos o interior das muretas, por onde corre o Rio. Existe inclusive queda dágua, mas toda sobre concreto, inclusive o fundo do Rio foi revestido com lage. Neste ponto, pelo menos no dia da foto, a visão do Rio não era nada romantica, com muitos detritos em seu leito.

Rio Carioca canalizado a ceu aberto - Praça no Cosme VelhoRio Carioca - Praça no Cosmo VelhoRio Carioca vindo do Largo do Boticário

Na foto acima, do lado direito, tirada na mesma praça, porém um pouco mais acima, podemos ver o Rio onde começam as muretas de concreto, com seu leito ainda ao natural e com pedras no leito. Naquele ponto, o Rio Carioca desce vindo do Largo do Boticário. A pequena construção do lado esquerdo é um bar. A partir desta praça, o Rio corre até o mar por baixo das ruas pavimentadas.

Rio Carioca na altura do Largo do Boticário no Cosme VelhoRio Carioca após passar sob ponto no Largo do Boticário

Na foto acima, do lado esquerdo o Rio Cariocavisto da ponte que dá acesso ao Largo do Boticário. Na foto da esquerda, o mesmo Rio visto depois de passar sob a mesma ponte. Observe que mais à frente existe outra pequena ponte, que liga à um residência construída às margens das correntezas do Rio.

Rio Carioca

Acima, o rio ou riacho Carioca e escada de pedra, existente desde os tempos remotos. Este tipo de escada é também muito visto em sítios arqueológicos Incas, entretanto não tem relação alguma com este local.

Aqueduto e Chafariz da Carioca

Para chegar ao antigo Chafariz da Carioca, as águas do Rio eram captadas no Morro de Santa Teresa, e então levadas pelo Aqueduto da Carioca até o Morro de Santo Antônio, e entao dirigidas até o Largo da Carioca e seu chafariz. O antigo Aqueduto da Carioca é o que é hoje chamado Arcos da Lapa.

Referências

  • Relato de visita à alguns locais onde Rio Carioca ainda se encontra à descoberto, feita pelo autor desta página.
    Consulta a livros sobre o Rio de Janeiro e sua história para dar suporte à criação desta página.