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A Floresta se Torna um Parque | História da Floresta da Tijuca - Parte 6

Continuação da História da Floresta da Tijuca tendo por base os escritos de Raimundo O. Castro Maia, ex-Administrador do Parque, com acréscimo de comentários, gravuras históricas e fotos de locais narrados feitas por mim, criador destas páginas.

A floresta se torna um parque durante a gestão do Barão de Escragnolle

Abaixo, em itálico, o relato de Castro Maya sobre a administração do Barão de Escragnolle.

De tal destino escapou porém a Floresta da Tijuca graças ao Imperador Dom Pedro II, que resolveu entregar sua administração a um fiel servidor e amigo, o Barão de Escragnolle.

Gastão Luís Henrique de Escragnolle descendia de franceses de estirpe nobre, que a Revolução Francesa forçara ao exílio. Seu pai e o avô materno aportaram ao Rio na frota do Regente D. João e não acompanharam a Corte no regresso a Lisboa: proclamada a Independência, passaram a servir nas forças armadas do Império e aqui viveram até o fim dos seus dias. Como eles, Gastão seguiu a carreira das armas; entrou para o Exército e tomou parte nas campanhas pacificadoras do 2.° Império. Chegado à inatividade, dedicou-se com mais empenho à leitura, que era o seu passatempo preferido. Conhecia bem as obras mestras e os grandes nomes das literaturas francesa e inglesa.

Sobre o Barão e alguns locais pitorescos

Marco com painel de azulejos sobre o Barão de Escragnolle, na Floresta da Tijuca

No pátio de estacionamento do restaurante "Os Esquilos", situado onde foi a residência do Barão de Escragnolle, existe um marco de homenagem ao Barão d’ Escragnolle, feita pelo Presidente Washington Luís e Prefeito Antônio Prado Junior, de 1928. Deve-se notar que, na época da inauguração do marco, não existia o restaurante "Esquilos", que foi inaugurado em 1945.

O marco tem estilo neo-barroco ou neo-colonial, e sobre os paineis de azulejo contém foto e dados biográficos deste segundo administrador.

A casa do Barão, construída em 1874 se encontrava em ruinas em 1943, e foi praticamente reconstruída para a criação do restaurante, e para tal foi usado material de demolição do antigo casario demolido para a construção da Av. Presidente Vargas.

Gruta Paulo e Virgínia, na Floresta da Tijuca

Gruta de Paulo e Virginia e seus entornos são um recanto que foi valorizado pelo Barão de Escragnolle. E o nome da gruta vem de personagens de um romance que o Barão apreciava.

Mirante Excelsior, na Floresta da Tijuca

O local Mirante Excelsior e seu caminho também foi um dos pontos valorizados pelo Barão. Originalmente o Mirante foi construído na gestão do Barão, entre 1874-1887 e reformado na gestão de Castro Maya, entre 1943-1947.

Possui um banco de cimento com azulejos e guarda-corpo com elementos geométricos. O patamar de concreto deve ter sido construído no século 20, talvez na gestão de Castro Maya. Atualmente encontra-se em mau estado de conservação, e com uma rachadura estrutural em um ponto da laje de concreto, evidenciando recalque (afundamento) de fundação em algum ponto.

Além de homem de cultura e educação possuía o principal título para o encargo, pois antigos laços o prendiam à Tijuca. Uma de suas irmãs casara-se com Félix Émile Taunay, de cuja casa tornou-se ele comensal. Tonton Bodo, como o tratavam familiarmente os sobrinhos, conhecia de longa data a Cascatinha e arredores. Portanto, não é demais admitir-se que, entregando-lhe o tranquilo posto no qual poderia recuperar a saúde alterada, Dom Pedro não estivesse simplesmente premiando um amigo.

Escragnolle mudou-se para a Floresta, indo morar no prédio onde está hoje o Restaurante dos Esquilos, e não descurou do plantio de árvores, pois até 1885 a faina ainda não havia terminado: restavam por plantar terrenos de pequena fertilidade que exigiam cuidados especiais.

Seu maior empenho foi, contudo, o de embelezar a Floresta; e nisto contou com a colaboração do grande paisagista francês Glaziou. Tão notável veio a ser sua contribuição quê o antigo horto transformou-se em encantador passeio público. O visitante de hoje encontra inúmeras reminiscências do velho barão. Ora é uma picada em suave ascensão, ora um pontilhão tosco de pedra roliça; e sobretudo os variados acidentes naturais que ele aproveitava ou, mesmo, compunha. E lá estão os nomes que lhes deu e que recordam suas simpatias literárias - gruta de Paulo e Virgínia, lembrando o romance de Bernardin de Saint Pierre; Excelsior, por causa do poema de Longfellow.

Porque considerava a Floresta como o seu parque, empregou também nomes familiares: Ponte da Baronesa, sua mulher; Cascata Gabriela, sua irmã (casada com Félix Émile Taunay); Vista do Almirante, Almirante Beaurepaire, seu avô; também Fonte Piraiú, a lembrar o longínquo rincão onde perdeu a vida, num trágico acidente, o seu único filho.

Amante da natureza, conservava a beleza da selva exuberante, mantendo-lhe intacto o caráter silvestre. Usou como elementos decorativos a pedra roliça, árvores e arbustos plantados como ao acaso; não lançava mão do cimento e da cantaria nos pousos que ia preparando para os que gostam de descansar à sombra do arvoredo. Quis, enfim, que a Floresta se transformasse em lugar de passeio.

Descrição da Floresta como Parque em 1885

Alfredo d'Escragnolle Taunay, Visconde de Taunay, descreveu em 1885 uma visita feita aos seus tios, que está publicada em "Viagens de Outr'ora". Aponta o trabalho do Barão e se refere ao estado da Floresta naquela ocasião. Para conhecimento do leitor, julguei útil reproduzir-lhe aqui os trechos principais:

Comentário e Nota:

O techo como citado por Castro Maya, está transcrito em outra página, onde se tem a descrição de uma visita e passeio à Floresta da Tijuca em 1885. Ao clicar no link voce pode ver a página. Abaixo a continuação do texto de Castro Maya.

Benfeitorias de Escragnolle que resistem ao tempo

São inúmeras as benfeitorias feitas, os recantos e pontos descobertos ou realçados pelo Barão de Escragnolle. Entretanto nem todas estas benfeitorias então exatamente como deixadas, mas os locais continuam a existir como ele nomeou a mais de cem anos atrás. Entre algumas benfeitorias, destaco aqui algumas que estão preservadas.

Fonte Humaitá

A Fonte Humaitá foi construída por Escragnolle, e situa-se no Recanto Paulo e Virginia, podendo ser vista logo após passar sobre a Ponte da Baronesa, entretanto encontra-se em mau estado de conservação.

Esta fonte constitui-se de uma mureta retangular, que em tempos passados, possivelmente era encimada por um vaso, que não mais se encontra no local. A água verte por um tubo tendo uma banheira do século 19, de mármore de carrara à sua frente, esculpida com motivos florais e contendo efígie de sátiro.

Fonte Pirajú

Esta fonte, também construída por Escragnolle situa-se à aproximadamente 800 metros da Gruta Paulo e Virgínia. Trata-se de um bloco imitando pedra e possuindo com cano para verter água em uma bacia de alvenaria de tijolos, revestida com argamassa de cimento e areia. Provelmente deve ter sido projetado por August Glaziou, que usava argamassa para criar mimetismos (imitações) de outros elementos.

Trilha do Pico da Tijuca

Até onde se sabe, a primeira picada de trilha em direção ao Pico da Tijuca foi aberta em 1853. No ano de 1885, o Barão sinalizou o caminho para os visitantes e excursionistas de então. E hoje em dia, a trilha que leva ao Pico da Tijuca é a mais visitada no Parque, embora devido à falta de conservação do caminho e da demarcação durante muitos anos, tenha feito sugir diferentes caminhos alternativos, até que a mesma fosse novamente demarcada em tempos recentes.

Deve-se notar que, no ano de 1920 a trilha for reconstituída e reformada, e teve 117 degraus escavados na rocha do trecho final que leva ao cume do Pico. Esta escadaria é ladeada por um corrimão de correntes de ferro. Eram inicialmente 62 hastes fincadas na rocha que prendiam as correntes, cujo comprimento chegava à 120 metros. Muitos metros da corrente se perderam com a corrosão, mas quem mais sofreu com a corrosão foram as hastes, sendo que mais de 60 por cento das mesmas haviam se desprendido por volta de 2005.

Este fato sobre a construção da escadaria, relatado em um inventário sobre a Floresta da Tijuca, desmente a lenda que a escadaria teria sido feita por escravos, no tempo de D. Pedro II.


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Referências e Fontes de Consulta

  • A Floresta da Tijuca, de Raymundo Ottoni de Castro Maya (Autor dos textos em "itálico").
  • Viagens de Outrora, do Visconde de Taunay.
  • Inventário dos Bens Culturais do Parque Nacional da Tijuca, Estado do Rio de Janeiro, de autoria do Ministério do Meio Ambiente