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Replantio e Reflorestamento | História da Floresta da Tijuca - Parte 5

Continuação da História da Floresta da Tijuca tendo por base os escritos de Raimundo O. Castro Maia, ex-Administrador do Parque, com acréscimo de comentários, gravuras históricas e fotos de locais narrados feitas por mim, criador destas páginas.

Replantio e Reflorestamento a Cargo do Major Gomes Archer, entre 1861 e 1874

O texto em "itálico" são os relatos de Castro Maya.

A devastação das matas havia contudo acarretado grande diminuição da água corrente; urgia fazê-la voltar ao primitivo nível, restabelecendo-se a cobertura vegetal da área, transformando esta em reserva florestal. Foi então escolhido para este fim e nomeado em 1861 o Major Manuel Gomes Archer, grande entusiasta da nossa flora, o qual possuía um sítio em Guaratiba, no caminho de Cabuçu, com grande quantidade de mudas das nossas essências florestais.

Archer fixou residência no sítio Midosi, trazendo como auxiliares alguns escravos que alojou em prédio fronteiro ao seu. O reflorestamento a cargo do major ocupou treze anos. No decorrer desse período foram plantadas acima de 100 000 árvores, trazidas do sítio do Cabuçu. A seleção e o agrupamento das espécies não obedeceram a um plano definido; como podemos apreciar hoje, somente os eucaliptos foram dispostos em aléia à margem dos caminhos; as demais espécies estão misturadas. Aqui e ali há grupos de cambucázeiros, que também gozavam das preferências do major.

Sobre o Major Archer e Colaboradores

Major Gomes Archer comandou o replantio entre 1861 e 1874

O Major Gomes Archer comandou o replantio entre 1861 e 1874 acessorado por cinco trabalhadores escravos segundo os registros. Alem da mão de obra não remunerada, ainda segundo registros existentes, foram usados também mão de obra remunerada em maior número que a não remunerada.

Archer contava com o apoio de D.Pedro II, que inclusive o levou em sua comitiva à uma histórica visita à Feira e Exposição Mundial da Filadélfia nos Estados Unidos.

Em 1874, após deixar o replantio da Floresta, D.Pedro II o nomeu para o cargo principal de sua Fazenda Imperial em Petrópolis, com a missão de realizar lá o mesmo trabalho de replantio feito na Floresta da Tijuca.

Trabalhor escravo fazendo replantio na Floresta da Tijuca | Escultura

Sob o pedestal da estátua, existe uma placa com os seguintes dizeres: "Eleuthério, Leopoldo, Manoel, Matheus e Maria, trabalhadores escravos que serviram ao Major Archer no reflorestamento da Floresta da Tijuca e a Sabino, Macário, Clemente, Antonio e Francisco, trabalhadores escravos de Thomas Nogueira da Gama, no reflorestamento das Paineiras, o agradecimento da Cidade do Rio de Janeiro e a homenagem dos que amam essa Floresta."

Seja como for, cobriu ele quase todas as terras da bacia do Cachoeira com variadas essências e reproduziu, pelas mãos dedicadas dos seus auxiliares, a floresta que tanto havia encantado José Alves Maciel. Entre outros, lá estão hoje, a atestar sua continuada atenção, o ipê, a urucurana, a sapucaia, os cedros, o pau-brasil, a peroba, o pau-ferro, o vinhático, a canela, o angico e a maria-preta, além das árvores frutíferas, jabuticabeiras, cambucázeiros, jaqueiras, etc.

Em 1874 Archer afastava-se da Tijuca por ter sido incumbido de similar reflorestamento em Petrópolis.
Como este resumo histórico não tem o rigor de uma crônica, abstenho-me de citar algumas datas e nomes dos que ocuparam postos de mando na Floresta: é um estudo do desenvolvimento da região que só comporta citação daqueles que participaram dos seus episódios. Vista sob este aspecto a história poderia ter sido encerrada quando Archer se afastou da direção das matas, que passariam a ser daí por diante mais uma reserva da Repartição de Águas, onde não seria permitido ao bulício do mundo perturbar o marulho das águas e os sibilos das aves do mato.

Sítios Históricos | Locais Usados pelo Major Archer

Ao caminhar pela floresta, é possivel ver reminescências e sitíos históricos que vem de épocas anteriores à administração do Major Archer, e locais que foram utilizados por ele e pelos trabalhadores que estiveram sob seu comando durante o replantio da Floresta, em sua gestão.

Os trabalhadores escravos, tinham como residência o local hoje utilizado e conhecido como restaurante A Floresta, que fica na Estrada do Pico.

Em outras palavras, no local situava-se a senzala do Major Archer, local este que, anteriormente às desapropriações era conhecido foi o Sìtio do Midosi.

Durante a administração de Castro Maya, ele encontrou o local em ruinas e segundo seu relato, o que restava da construção foi posto abaixo e reconstruído no local um restaurante construído em alvenaria, em estilo colonial projetado em 1944 pelo arquiteto Vladimir Alves de Souza,com material de demolição oriundo das demolições para abertura da Av. Presidente Vargas.

Restaurante "A Fazenda", no local onde ficavam os trabalhadores escravos do Major Archer"O Barracao", local onde ficavam trabalhadores assalariados do Major Archer

Os trabalhadores assalariados ficavam no local conhecido como "Barracão", que fica na Estrada do Imperador, na encruzilhada com o início da estrada do Mirante Excelsior. Também é uma construção antiga, construída no início do século 19, tendo sido casa de Caudelaria do Conde Gestas, que vendeu as terras do sítio da Cascatinha para Nícolas Taunay. O "Barracão" foi posteriormente utilizado como casa de fazenda do Barão de Mesquita. Após a venda da propriedade, o local passou a ser usado como senzala e depois abrigou os trabalhadores assalaridados do Major Archer. Durante a gestão de Castro Maya, este utilizou o local.

Embora tenha sido dito que tudo foi posto abaixo, as paredes da construção são bastante espessas, assim como o madeiramento do teto e madeiramento aparente da varanda parecem ser do início do século 19. Caso tenha sido "tudo" reconstruído sobre ruínas "postas abaixo", então aparenta ser um trabalho de "mimetismo" e reconstrução muito bem feito.

Ruinas do Archer

Na Estrada dos Picos, em frente ao restaurante "A Floresta", existem ruinas que são tidas como da casa que o Major Archer usou para sua residência durante sua administração. Constituem-se de extensas muralhas em pedra, com alturas bastante variáveis e dimensões consideráveis. Embora existam patamares e degraus no local, o que se vê são apenas resquícios do que um dia foi uma casa de fazenda.

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Referências

  • A Floresta da Tijuca, de Raymundo Ottoni de Castro Maya (Autor dos textos em "itálico")
  • Inventário dos Bens Culturais do Parque Nacional da Tijuca, Estado do Rio de Janeiro, de autoria do Ministério do Meio Ambiente, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade