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Capoeira e Capoeiragem

Basicamente falando, a Capoeira é uma manifestação cultural que mistura luta e dança e acredita-se que surgiu inicialmente entre escravos fugitivos que se agrupavam em quilombos, como forma de defesa.

Muitos definema capoeira como um jogo de agilidade pessoal, e alguns erroneamente ou não acreditam que o seu surgimento aconteceu na cidade do Rio de Janeiro. Esta tese parece não ter total consistência nem aceitação, entretanto, dizer que foi no Rio de Janeiro que a Capoeira mais se proliferou e ganhou fama parace ser uma afirmação razoável e aceitável.

A Capoeira na história do Rio de Janeiro

Antigamente era também chamada de capoeiragem e talvez tenha sido a forma de exercício físico de lazer ou ginástica popular mais praticado entre a população do Rio de Janeiro nos século 19 e início do Século 20.

A capoeiragem era vista como algo que exigia destresa e falta de medo, e muitos praticantes se tornaram conhecidos na história do Rio.

Antigamente, que praticava a "capoeiragem" era o "capoeira". Segundo o autor Mello M. Fillho, o "capoeira" geralmente era do sexo masculino, e começava a praticar a o jogo da capoeiragem entre os 10 e 12 anos.

Os golpes mais característicos eram a rasteira, o rabo-de-arraia, o corta-capim e a cocada.

Ao contrário dos dias de hoje, onde a capoeira é vista com bons olhos, em tempos passados não era muito bem vista.

A capoeiragem era considerada uma forma de exercícios objetivando proporcionar capacidade de agressão e ataque, dando à quem dominasse esta técnica uma grande capacidade de responder à afrontamentos.

Capoeira no Rio entre 1822-1824, por Rugendas

Capoeira no Rio entre 1822-1824, por Rugendas

A navalha e o cacete de madeira

Os "capoeiras" naquela época, não se utilizavam somente de seu corpo e membros como armas, mas também da faca, navalha e um bastão de pau em caso de defesa ou desafronta real.

Uma vez que o capoeira estivesse diante de uma luta real, este investia, saltava, esquivava-se, pinoteava, passava rastereiro ao chão sempre com rápidos movimentos, utilizando-se dos pés, mãos, cabeça, e também de navalha ou faca, se segundo relatos, era possivel vencer ou fazer com fugissem ou desistissem da luta em torno de 10 à 20 oponentes que não dominassem esta arte.

A navalha e um porrete de madeira de cerca de cinquenta centímetros eram usado presos ao pulso por uma corda de linho de fina espessura, assim eles podem fazer saltos, estrelas e inumeros movimento apoiando com as mãos e sem perder estas armas. Embora usassem estes recurso, os capoeiras não usavam armas de fogo.

Existem relatos, talvez imaginosos, que dizem que, a capoira marginal, ou com uso de navalha, teria sido inventada pelos mestiços, sendo uma luta principalmente para defesa e também de ataque, onde o franzino porém ágil, poderia enfrentar um português de murros fortes ou munido com um um porrete em suas mãos.

A tática de luta do capoeira, consistia em se aproximar e se esquivar do adverssário, com intuito de cansa-lo e ao mesmo tempo distrair sua atenção, estudando-o e aguardando o momento oportuno para derruba-lo através de uma rasteira, cabeça o golpe com o pé em partes do corpo do oponente.

Os capoeiras mais hábeis chegavam a lutar com as mãos nos bolso, saltando de um lado para o outro, esperando uma oportunidade para derrubar o adverssário através de uma rasteira ou cocada no estômago.

Se a navalha entrasse em ação, então o jogo ficava sério e com ferimentos gráves. De nada adiantaria um valentão furioso e inábil com um porrete na mão diante de uma navalha riscando o ar no momento oportuno até atingir as tripas do oponente.

Um capoeirista que sabe usar navalha, em demonstrações pode inclusive rasgar lençois com navalhas presas entre os dedos dos pés ou segurando com as mãos enquanto faz evoluções.

Os Capoeiras e Seu Estilo

Os capoeiras andavam e vestiam-se de forma típica e marcante. Geralmente caminhavam gingando, com olhar penetrante e observador, sendo uma atitude de defesa constante contra todos que viam. Quanto à roupa, costumavam usar chapéu de feltro desabado, paletó tipo saco e andavam com ele desabotoado, usavam um grande lenço no pescoço, calças largas e de boca estreita, sapatos ou botinas de bico comprido.

O capoeira vestia-se de forma característica, calças largas, mas de boca estreita, paletó saco quase sempre desabotoado, lenço grande à volta do pescoço, sapatos ou botinas de bico comprido,

Os capoeiras costumavam andar em turmas chamdas de maltas (turmas de pessoas de baixa renda ou até malandros), e estas turmas tinham apelidos de acordo com os bairros ou locais de origem.

Entre as turmas que ficaram mais conhecidas estão "Flor da Gente" da Glória, "Espada" da Lapa, "Guaiamú" da Cidade Nova e "Monturo" de Santa Luzia, "Cadeira da Senhora" do área do Campo de Santana, "Três Cachos" de Santa Rita, "Franciscanos" de São Francisco de Paula entre outros.

Estas turmas, muitas vezes eram contratadas por políticos para provocarem tumultos ou pertubar as eleições. Às vezes saiam à frente de procissões e bandas de música. A junção ou encontro no mesmo local entre polícia e turmas de capoeira geralmente acabava em conflitos sérios e sangrentos.

Capoeira no Rio de Janeiro em 1824, por Augustus Earle

Capoeira no Rio de Janeiro em 1824, por Augustus Earle

A Proibição da Capoeiragem

Nos primeiros anos da República, durante o primeiro governo presidencial do Marechal Deodoro, ouve uma perseguição aos capoeiras e o Chefe da Polícia acabou com as maltas. Uma lei de 1890 estabelecia penas de 2 a 6 meses de trabalho forçado na Ilha de Fernando de Noronha para quem praticasse a "ginastica" então conhecida como capoeiragem. Nesta época acabou-se com a capoeiragem e as maltas e nomes famosos e anteriormente temidos até pela polícia como um certo Cyríaco entre outros que foram presos.

A repressão foi tão grande que inclusive um Juca Reis, capoeirista e filho de um certo Conde de Matosinhos, dono de um jornal de grande circulação chamado "O País" também foi preso e mandado para Fernando de Noronha. Como o jornal apoiava Deodoro, o capoeira "gente fina" foi logo anistiado por ser filho de um "figurão" e embarcado para Portugal.

A Primeira luta de Vale Tudo ?

Ciríaco, antes temido pela polícia, depois de passar por Fernando de Noronha voltou ao Rio e trabalhava no porto, como estivador de uma empresa de café. Em 1909 este protagonizou um episódio de luta arranjada entre ele e um campeão japonês de Jiu-Jtsu que se encontrava no Rio fazendo demonstrações. O vencedor da luta foi Cyríaco que finalizou o combate com um rabo de arraia.

Demonstração de capoeira na Escola de Medicina no início do século 20

Acima demonstração de capoeira na Escola de Medicina do Rio de Janeiro, feita por Cyriaco. Alguns alunos e até professores eram entusiastas desta arte.

A Capoeira à Serviço da Polícia e de Sua Majestade

A polícia da Corte do Rio de Janeiro, possuia "capoeiras" ou lutadores de capoeiras no quartel do bairro de Mataporcos, atualmente bairro do Estácio. Este quartel ficava no início da Rua Hadock Lobo, e lá praticava-se a capoeiragem.

O escritor Manuel António de Almeida cita o Major Vidigal, um personagem real em Memórias de Um Sargento de Milícias. Segundo dizem, Vidigal era um hábil capoeirista.

No ano de 1828, no antigo Róssio Pequeno, hoje chamado de Praça Onze (pouco resta deste local em função da abertura da Av. Presidente Vargas), batalhões mercenários que se sublevaram constituídos por alemães e holandeses foram derrotados pelos capoeiras.

Durante a Guerra do Paraguai, durante o assalto à ponte de Itororó (Batalha de Itororó, 1868), o 31º Batalhão de Voluntários da Pátria, formado pela polícia da Corte, atacou contra os paraguaios utilizando apenas golpes de sabre e luta de capoeira, pois as munições estavam esgotadas.


Referencias e Fontes: