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Antigo Convento da Ajuda

O antigo Convento da Ajuda, um ícone e referência do Rio de Janeiro de outrora, existiu até a primeira década do Século 20, na extinta Rua da Ajuda, na região onde é hoje a Praça da Cinelândia ou Praça Marechal Floriano. Sua fama se dava por sua localizção central e serviços, assim como por ter sido o primeiro mosteiro para mulheres no Rio de Janeiro.

Antecedentes à criação do antigo Convento da Ajuda

Especulando acerca da história, diz-se que por muito tempo se almejava a construção de um convento para mulheres. Entretanto o Reino de Portugal, talvez mais interessado em povoar a nova terra, o que alias era uma necessidade, não via tanto interesse em estimular um convento para tal fim. Afinal, antes de criar um convento, era preciso ter muitas almas para salvar. E enquanto isto não ocorresse era necessário que as mulheres se casasem para procriar.

Diz-se que, a primeira tentativa para criação de um convento para mulheres foi tentada por uma viúva de um certo Mestre de Campo Luiz Barbalho. Dona Cecília, uma viúva muito católica, pensava no fato de ter 3 filhas moças sem opção alguma de conseguir bons casamentos, e também na impossibilidade de mudar-se para Portugal, então capital do Reino. Seu sonho era criar um convento para as filhas.

Como o Conselho Ultramarino não arranjava uma solução e sempre protelava uma resposta, a virtuosa viúva com suas 3 filhas uniu-se à 2 meninas de outra família e dicidiram viver como conversas. Para tal construiram uma edificação para este fim muito perto da antiga capela de Nossa Senhora da Conceição da Ajuda.

A pequena capela de N.S. da Ajuda situava-se em um antigo caminho entre o Morro do Castelo e os Arcos da Carioca ( ou Aqueduto da Carioca ou Arcos da Lapa). Este antigo caminho já se chamaou Rua dos Barbonos e passou a se chamar Rua Evaristo da Veiga.

O nome Rua dos "Borbonos" vem dos "barbadinhos" ou "capuchinhos", os frades italianos que tiveram um convento no local, entre os anos de 1742 e 1808. O local é o mesmo onde nos dias de hoje existe um quartel da Polícia Militar, em um antigo edifício provavelmente acrescido ou construído sobre o antigo dos Borbonos.

Construção do Convento da Ajuda entre 1745 e 1750

Segundo referências históricas, a pedra fundamental do convento foi lançada em julho de 1678. Segundo outras fontes, somente em 1705 a metrópole do Reino autorizou a instalação do convento com um número máximo de 50 reclusas. A construção de fato somente se iniciou muitos anos depois.

O projeto e construção do Convento esteve à cargo do Brigadeiro e Engenheiro Militar José Fernandes Pinto de Alpoim, o mesmo que planejou e construiu a Casa dos Governadores, atual Paço Real na Praça XV em sua versão original, o edifício conhecido como Arco do Teles, o Aqueduto da Carioca, conhecido como Arcos da Lapa, e o Convento de Santa Teresa entre inúmeras outras grandes obras do Brasil Colonial.

A construção começou no ano de 1745 e a inauguração aconteceu com a presença do Governador Gomes Freire de Andrade (Conde de Bobadela) em Março de 1750.

Três meses depois, no início de Maio foi feita a primeira profissão de fé das que foram as primeiras noviças do convento.

Descrição do Edifício do Convento

O edifício do convento tinha formas simples e chapadas, do tipo "caixotes" encimado por telhado colonial, como era costume à época, da construção. Estes edifícios como os demais tinhas paredes espessas, não somente em função das técnicas construtivas da época, mas também eram pensados como fortalezas para segurança dos religiosos e até mesmo da cidade em caso de invasão ou guerras.

O edifício se estendia da antiga Rua da Ajuda (rua que ficava quase onde é hoje a avenida Rio Branco) indo até o Passeio Público, construído no final daquele mesmo século sobre aterro de uma lagoa.

Chafariz do convento é obra de Mestre Valentim

Um dos mais belos chafarizes da cidade, chafarizes que naquela época tinham a função de abastecimento de água em vários pontos, era o famoso Chafariz das Saracuras, projeto de Mestre Valentim, um dos maiores artistas e arquitetos do final do Século 18 e início do Século 19.

O chafariz foi poupado da demolição e transladado para a Praça General Osório em Ipanema, onde pode ser contemplado nos dias de hoje. Entretanto não se ve no local as aves que deram nome ao chafariz, isto é, no gosto popular.

Demolição em 1911

O grande edifício ocupava um grande espaço da área da Cinelândia. Na verdade, a abertura desta Praça no início do século 20 foi feita logo após a demolição do convento, ocorrida em 1911. A demolição se deu como um complemento posterior das transformações urbanisticas e de modernização da cidade, iniciadas em 1904, durante o quatriênio do Presidente Rodrigues Alves e mandado do Prefeito Pereira Passos.

Um novo Convento de N.S. da Ajuda foi construído em Vila Isabel, na mesma época para abrigar as freiras.

O Rio de Janeiro nos tempos do Convento da Ajuda e suas tradições

Como era localizado na região central da cidade, entre o Morro do Castelo e Passeio Público, era uma edificação de referência e desempenhava um importante papel na vida do Rio de Janeiro de outrora.

Em torno e em função do convento muitos eventos importantes aconteciam, como festas religiosas, festas populares, sepultamento de importantes membros da corte e muitos fatos que faziam misturar o sagrado e o profano.

Eram famosos os doces feitos pelas irmãs do convento, que os vendiam no local e também recebiam encomendas de familias ricas para festas de casamento e batizados. Os doces mais famosos, talvez fossem as "mães-bentas", que assim como os demais, eram uma boa fonte de renda para o convento.

Diz-se que, as monjas de suas celas diziam versos curtos ou motes a alguns também poetas de ocasião que do lado de fora recitavam também poesias ou declarações ao estilo dos antigos menestreis. Este rapazes tentavam se comunicar tanto da rua como como do terraço que ficava em frente à capela com as monjas que os observava de suas celas. Aos que mais de destacavam ou "venciam o torneio" poético, lhe eram dados doces e guloseimas feitas pelas freiras. Verdade ou mentira não se sabe ao certo, mas existem depoimentos de quem viveu nos ultimos anos do século 19 e início do século 20 que falam sobre estes costumes.

Também no pátio do convento, havia reunião de grupos de moças e rapazes, que dançavam e foliavam em meio à uma multidão, até de madrugada, em festas tradicionais com vestes pastoris, semelhante aos ranchos, mas em tempo anterior ao surgimento dos ranchos, precursores das escolas de samba.

Referencias e Fontes: